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Ensaios-->AS ÚLTIMAS DOENÇAS -- 13/10/2001 - 19:52 (Felipe Cerquize) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O mundo moderno vem permitindo que os homens tenham uma expectativa de vida maior, mas, ao mesmo tempo em que evoluímos fenomenalmente, também consentimos a mistura do medieval com o contemporâneo. Enquanto a tomografia computadorizada vasculha cada milímetro das nossas massas encefálicas, há pessoas que ainda morrem de cólera. Enquanto remédios finalmente corrigem a chamada disfunção erétil, há pessoas, muitas pessoas, que morrem de desnutrição. Aí está: parece coisa da Seleção Natural de Darwin. E vai ver que é mesmo, porque a impressão que se tem é de que não há espaço para tanta gente num mesmo mundo. Ou, pelo menos, o Homo sapiens não se permitiu que assim fosse. Então, podemos descobrir quais serão as últimas doenças. Serão aquelas que, na verdade, foram as primeiras e vêm se mantendo ao longo de todos esses séculos. Serão os tumores sociais. Serão a briga pelo poder e a dissimulação de nossas idéias no momento em que estamos entre a necessidade de se pesar e o peso de se necessitar. Será a nossa própria depressão, quando percebermos que fomos hipócritas a vida toda, sem que isso nos tenha levado a um bem-estar legítimo.

As últimas doenças. Eu bem que gostaria que elas fossem conseqüência de um cataclismo e não das nossas próprias vontades. Mas, salvo o choque com um meteoro gigante ou com um cometa, estamos fadados a morrer como vítimas de nossa própria inteligência, cada vez mais depurada e capaz de encontrar mecanismos que lhe permitam uma maior sobrevida como indivíduo (Não como sociedade, pode crer). Então, o que passa por essas cabeças? “Tenho que fazer o melhor para obter o máximo, para que, assim, possa ter uma existência confortável”. Os indivíduos estão o tempo todo arquitetando maneiras de tirar proveitos pessoais, quando submetidos às ordens de uma sociedade, seja como pedreiro, seja como general.
As primeiras serão as últimas. A inveja, pecado capital que matou o filho de Adão e Eva, continua destruindo. O ódio parece que vem se multiplicando nas famílias e nas ruas. O trem está feio, meus amigos! Considerando que cada vez há menos espaço para mais pessoas, é óbvio que vai aumentar a população predisposta a matar o seu semelhante (com uma certa dosagem de prazer mórbido, às vezes).

Doentes! Doentes! É assim que estamos. Talvez seja presunção da minha parte dizer que estamos no último estágio da morbidez ou próximos dele, mas esse é o horizonte que consigo vislumbrar no momento. Pode ser que tenhamos o esperado Juízo Final e, a partir de então, passemos a viver no tão sonhado paraíso terrestre (os poucos que ficarem). Pode ser que, de repente, dê uma porra-louquice no G7 e os seus países componentes comecem a compartilhar uma parte de suas riquezas com os mais pobres (Pode ser que descubram que a simbiose é melhor do que o parasitismo, uai!). Enfim, tudo pode ser, mas pelo comportamento geral mostrado ao longo da História, é impossível pensar que possamos vir a ter o bom separado do ruim e o saudável longe do enfermo. A própria natureza, sábia que é, nos mostra que nada é eternamente perene. Temos que aproveitar o que é bom enquanto está bom. O deserto do Saara já foi uma imensa floresta. A Amazônia ainda é. Os répteis já dominaram o mundo. Aproveitemos, então, a nossa condição atual.
Doentes! Doentes! Quer exemplos? Parar no trânsito para contemplar mais uma vítima fatal de atropelamento. Numa disputa, sentir-se realizado quando se obtém o êxito, enquanto alguém está indo para a lama por perder (“Ah, mas isto é normal!”, diria você.). Ficar diante da televisão assistindo a novelas intermináveis, sem querer perceber que a realidade é muito mais melodramática. Ir para as igrejas para tirar o capeta do corpo. Atirar no semelhante por qualquer pretexto. Colocar cem pessoas presas numa cela de dez metros quadrados, esperando que elas se reabilitem e voltem a ser parte da sociedade depois de cumprirem suas penas. Ficar deprimido porque alguém conhecido morreu (No fundo, o que nos sensibiliza é a possibilidade de morrer também). Ver um ferrado na rua e não lhe dar um auxílio por achar que o desgraçado vai é encher a cara de cachaça. Estamos doentes, sim! Queira Deus que esse quadro um dia se modifique e que possamos verdadeiramente nos confraternizar no dia primeiro de janeiro de um ano qualquer, de preferência ainda dentro do período de minha existência.

E você? Acha que estamos todos um tanto enfermos ou sou eu que estou doente? É, pode ser que haja um pouco das duas coisas, o que não deixa de ser uma coisa só. É incrível, mas parece que o presente é sempre a parte menos interessante do tempo. O passado nos traz a nostalgia, o futuro a curiosidade. Falar em últimas doenças como se já as tivéssemos vivendo tira um pouco do encanto que os videntes tanto fazem questão de preservar. Ok, vamos lá! Há grandes chances de que eu esteja redondamente enganado. É bem possível que nem tenhamos ainda a dimensão do que seriam os nossos últimos passos na Terra. O que eu espero, do fundo do coração, é que estes falsos presságios e estas duras constatações se encontrem em algum lugar do futuro e sigam para o quinto dos infernos. Isto é o que desejo.


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